1. |
Pano-Cru
01:32
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Ouve, meu amigo
põe a máquina a gravar
queria só explicar aqui
que eu sou como o pano-cru
como pano-cru
eu ainda estou por acabar
e como o linho vem da terra
assim viemos eu e tu
e como tu eu faço e amo
e luto e dou
e como tu eu estou
entre aquilo que já fiz
e aquilo que eu fizer
eu sou de pano-cru
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2. |
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De não saber o que me espera
Tirei a sorte à minha guerra
Recolhi sombras onde vira
Luzes de orvalho ao meio-dia
Vítima de só haver vaga
Entre uma mão e uma espada
Mas que maneira bicuda
De ir à guerra sem ajuda
Viemos pelo sol nascente
Vingamos a madrugada
Mas não encontramos nada
Sol e àgua sol e àgua
De linhas tortas havia
Um pouco de maresia
Mas quem vencer esta meta
Que diga se a linha é recta
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3. |
Altos Altentes
02:03
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Altos altentes
carapinos carapentes
Dá-lhe uma risada
E caem-lhe os dentes
Igrejinha pequenina
Sacristão revolvedor
A gente que nela mora
Toda veste duma cor
Carvalheira tem cem canos
Cada cano tem cem ninhos
Cada ninho tem cem ovos
Quantos são os passarinhos
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4. |
Romance da Lhoba
02:25
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Indo ió la sierra arriba
Delantre de mia piara
Indo ió la sierra arriba
Delantre de minha piara
Repicand`al mio caldeiro
Remando mia samarra
Repicand`al mio caldeiro
Remando mia samarra
Quando me sai uma lhoba
Que era grande e parda
Quando me sai uma lhoba
Que era grande e parda
E lhebou-me unha cordeira
La melhor de la piara
E lhebou-me unha cordeira
La melhor de la piara
Arriba seite cachorros
Abaixo pera guardiana
Arriba seite cachorros
Abaixo pera guardiana
Se m`agarrardes la lhoba
Boa cena teneis gana
E se non me l`agarrardes
Cenareis com la caiata
E corrian siete léguas
Todas siete por arada
E corrian siete léguas
Todas siete por arada
E al final das siete léguas
Yá la lhoba va cansada
E al final das siete léguas
Yá la lhoba ya cansada
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5. |
Poemarma
02:56
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Que o poema tenha rodas motores alavancas
que seja máquina espectáculo cinema.
Que diga à estátua: sai do caminho que atravancas.
Que seja um autocarro em forma de poema.
Que o poema cante no cimo das chaminés
que se levante e faça o pino em cada praça
que diga quem eu sou e quem tu és
que não seja só mais um que passa.
Que o poema esprema a gema do seu tema
e seja apenas um teorema com dois braços.
Que o poema invente um novo estratagema
para escapar a quem lhe segue os passos.
Que o poema corra salte pule
que seja pulga e faça cócegas ao burguês
que o poema se vista subversivo de ganga azul
e vá explicar numa parede alguns porquês
Que o poema se meta nos anúncios das cidades
que seja seta sinalização radar
que o poema cante em todas as idades
(que lindo!) no presente e no futuro o verbo amar.
Que o poema seja microfone e fale
uma noite destas de repente às três e tal
para que a lua estoire e o sono estale
e a gente acorde finalmente em Portugal.
Que o poema seja encontro onde era despedida.
Que participe. Comunique. E destrua
para sempre a distância entre a arte e a vida.
Que salte do papel para a página da rua
.
Que seja experimentado muito mais que experimental
que tenha ideias sim mas também pernas
E até se partir uma não faz mal:
antes de muletas que de asas eternas .
Que o poema fique. E que ficando se aplique
A não criar barriga a não usar chinelos.
Que o poema seja um novo Infante Henrique
Voltado para dentro. E sem castelos.
Que o poema vista de domingo cada dia
e atire foguetes para dentro do quotidiano.
Que o poema vista a prosa de poesia
ao menos uma vez em cada ano.
Que o poema faça um poeta de cada
funcionário já farto de funcionar.
Ah que de novo acorde no lusíada
a saudade do novo o desejo de achar.
Que o poema diga o que é preciso
que chegue disfarçado ao pé de ti
e aponte a terra que tu pisas e eu piso.
E que o poema diga: o longe é aqui.
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6. |
O Dia do Mar
03:27
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O mar, não tem marés a medir.
O mar
que tudo junta tudo separando
que todos vai trazendo e vai levando
com vários planos.
O mar
sustenta a infindável aventura
das ilhas que nele andam à procura
dos seus oceanos.
O mar, não tem marés a medir.
O mar começa o seu dia em Santa Maria da Boa Viagem.
Alarga para São Miguel ajeita o farnel e segue com a aragem.
Arrima para a Terceira arranja maneira de molhar o bico.
Na Graciosa dá beijos acalma os desejos e ala! Para o Pico.
Aí conversa primeiro com um baleeiro do Dias de Melo.
Engrossa-se a meio canal sorri para o Faial que dá gosto vê-lo.
São Jorge pára nas Velas e faz um coral com nove cagarras.
Nas Flores cumprimenta o povo encosta-se ao Corvo
e estende as amarras.
O mar, não tem marés a medir.
O mar
enorme qualidade de estar perto
imensa negação do que é deserto
neste cantar.
O mar
o sem razão mais forte deste mundo
talvez por não pensar e ser profundo
o nosso mar
O mar, não tem marés a medir.
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7. |
Achégate a Mim, Maruxa
03:36
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Achégate a mim, Maruxa
chégate ben, moreniña
quérome casar contigo
serás miña mulherica
Adeus, estrela brilante
compañeiriña da lua
moitas caras teño visto
mais como a tua ningunha
Adeus lubeiriña triste
de espaldas te vou mirando
non sei que me queda dentro
que me despido chorando
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8. |
Olha o Fado
03:26
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Eu cá sou dos Fonsecas
Eu cá sou dos Madureiras
De ferro o puro sangue
O que me corre nas veias
Nasci da paixão temporal
Do porto dos vendavais
Cresço no fragor da luta
Numa força bruta
P'ra além dos mortais
Mas tenho muitas saudades
Certas penas e desejos
E aquela louca ansiedade
Como um pecado
Meu amor se te não vejo
Olha o fado
Ora é tão vingativo
Ora é tão paciente
Amanhã é comedor
Hoje abstinente
Mentiroso alcoviteiro
Doce e verdadeiro
Uma vez conquistador
Outra vez vencido
Amanhã é navegante
Hoje é desvalido
Sensual aventureiro
Doido e bandoleiro
Somos capitães
Somos Albuquerques
Nós somos leões
Os lobos do mar
De olhos pregados nos céus
De cima dos chapitéus
Somos capitães
Somos Albuquerques
Nós somos leões
Os lobos do mar
E na verdade o que vos dói
É que não queremos ser heróis
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9. |
Molinera
02:45
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Molinera, molinera
Bien te lo decía yo,
Que la muerte de Manolo
Iba ser tu perdición.
Molinera, molinera
Donde vienes tu temprano?
Vengo de ver a Manolo
Que me han dicho, que 'stá malo.
Unos dicen que se muere
Otros dicen que se acaba
Otros dicen que no llega
A las tres de la mañana.
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10. |
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Já comi e já bebi
Já molhei minha garganta
Eu sou como o roxinal
Quando bebe logo canta
Rapazes quando eu morrer
Levai-me devagarinho
Na campa deitai-me àgua
Por cima deitai-me vinho
Um e um são dois - quem tem vacas espera bois
Dois e um são três - ainda cá volto outra vez
À porta do St. António
Está um ramo de loureiro
É uma pouca vergonha
Fazer do santo tasqueiro
Hei-de morrer numa adega
Um tonel ser meu caixão
Hei-de levar de mortalha
Um copo cheio na mão
Dois e dois são quatro - bela carne tem o pato
Três e dois são cinco - vai do branco se não há tinto
O vinho é coisa boa
Nascido da cepa torta
A uns faz perder o tino
Outros faz perder a porta
Se um dia perder a porta
Seja com tal desatino
Que vá dar a um lugar
Onde se venda bom vinho
Três e três são seis - posto Natal vêm os Reis
Quatro e três são sete - quem não pode não promete
O vinho mata tristezas
A água cria lombrigas
Quando vejo vinho puro
Peço a Deus sete barigas
Minha avó quando morreu
Levou palma e capela
Deixou-me as chaves da adega
O vinho bebeu-a ela
Quatro e quatro são oito - não há bolo como o biscoito
Quatro e cinco são nove - canta o rico chora o pobre
Cinco e cinco são dez - descansam as mãos trabalham os pés
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11. |
Travessia do Deserto
02:49
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Que caminho tão longo!
Que viagem tão comprida!
Que deserto tão grande
Sem fronteira nem medida!
Águas do pensamento
Vinde regar o sustento
Da minha vida
Este peso calado
Queima o sol por trás do monte
Queima o tempo parado
Queima o rio com a ponte
Águas dos meus cansaços
Semeai os meus passos
Como uma fonte
Ai que sede tão funda!
Ai que fome tão antiga!
Quantas noites se perdem
No amor de cada espiga!
Ventre calmo da terra
Leva-me na tua guerra
Se és minha amiga
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